terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Humana demasiada humana*



Um dia atípico e o coração transbordando de sensações que sou incapaz de definir. De repente eu que sempre peco por falar demais me vejo estranhamente sem palavras. 
Houve um momento em minha vida em que eu, pessoa de fala me calei e me tornei uma pessoa de escrita, mas agora, nem escrever eu consigo.
E por não saber mais falar e não conseguir escrever tenho ímpetos de gritar.
Todas minhas projeções, meus desenhos, minha escrita e até meus suspiros esfacelam-se  sem que eu faça a menor ideia de como consertar.
Abro a boca e digo meia dúzia de palavras, as respostas que eu tenho não me bastam:
"-Tenha paciência, mantenha a calma, não dê importância..."
E se eu não tiver paciência, não for nenhum pouco calma e quiser sim, dar MUITA importância?
Abro mão de me entregar apenas aquilo que me toca a alma e disfarçada de desentendida, mergulho em superficialidades.
-Você e suas fugas, é o que dizem.  
-Vocês e seus dramas, é o que me limito a responder.
Dentro de mim a razão me acusa de covarde e é dessa culpa que vem minha vontade de gritar o que tenho aqui do lado de dentro.
Faço-o pela escrita, e em linhas tão confusas e vomitadas, que mal consigo ver sentido nesses "vômitos-gritos-sentimentos-linhas".
No peito, o coração insiste em bater descompassado, em ritmo nenhum, desafinado.
Luto para emergir do meu mar de superficialidade, insisto em sobreviver, o que por hora haverá de bastar. 
Agarro-me em certezas ínfimas: a dor e a confusão só vem pra gente lembrar da força e entendimento que há dentro de nós.
As respostas estão "in", nunca "out".  
Desisto dos entendimentos inúteis.  Deixo de ser, permaneço apenas humana.
De nada adianta mente tranquila para quem tem coração que nasceu pra sambar.


 Humano Demasiado Humano-Friedrich Nietzsche*

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Palhaço



O circo está armado,  platéia lotada, cada um em seu lugar numa espera silenciosa.
O palco se ilumina, o palhaço entra.
Alguns sorriem e outros atém choram, poucos passam inertes.

-Palhaços são seres capazes de provocar fortes sensações.-

Ciente de sua missão no palco, executa a tarefa com perfeição: Um pedacinho de si para cada um.
O show acaba, a platéia vai embora.
Alguns falarão do espetáculo por dias, outros, na manhã seguinte nem se lembrarão que existem palhaços.

Mas ele ainda estará lá.

- Palhaço, palco e  lágrimas. -

Não aquelas que fazem parte do figurino, aquelas muito bem desenhadas com maquiagem de quinta categoria, mas aquelas que só surgem quando todas as luzes se apagam e ele percebe que ficou sozinho,
que no final das contas, nesse grande circo chamado vida, é somente ele e sua solidão, o resto é platéia, jamais serão elenco.