sexta-feira, 5 de julho de 2013

Das coisas que precisam morrer



Quis então, como nunca antes quisera, que se fechasse a conta.

Passar a régua, ponto final, nada dessa chateação de reticências eternas.


Eis um segredo para a vida: pra continuar vivo, precisamos morrer. Morrer aos poucos, morrer em pedaços, morrer daquilo que sente, morrer de algumas pessoas, morrer das dores, morrer das impossibilidades, morrer do que já não serve mais, morrer e enterrar, encarar o luto e seguir em frente.


Ela sabia que no inverno as pessoas ficavam mais tristes.


Não, não se incomode. Isso acontece comigo de vez em quando, é que o tempo é um sujeitinho muito irônico, ele vem e muda o que considerávamos imutáveis sem pedir licença ou por favor. Tudo no susto. Ele passou por aqui e agora ando nua de certezas.


Ela sempre acreditou que as palavras ditas, ou aquelas ditas da pior maneira possível eram as que mais doíam, com surpresa, descobriu que o que mais dói é aquilo que não é dito.

Olhares silenciosos são assassinos soltos por aí e ninguém nem desconfia.


Sim, meu peito anda apertado de cansaços, tristezas e impossibilidades. Não sei como morrer para elas. Dói, dói sem pausas, dói desastrosamente.


Tinha dúvidas se ainda era capaz de renascer, queria voltar mas os pés lhe doíam e talvez já nem soubesse como, nem mesmo por quê.


Já morri incontáveis vezes, sei bem que dói de um tamanho que nem sei explicar, mas até hoje, eu sempre soube voltar.


Sempre soube: o que não tem respostas, respondido está.


-Garçom, fecha a conta da minha vida por favor?










FIM.










(Ou não)





sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nós - Das cartas não enviadas


 

Fomos serenos num mundo veloz,

Nunca entendemos então porque nós.

Só mais ou menos.*

 

Querido, às vezes os fantasmas de nós me perseguem.

Numa música, numa frase, nos olhos daquele moço que se parece contigo e em muitas coisas eu ainda lembro-me de você.         
Nós morremos, aliás, o nosso nós foi feito pra acabar, e embora a dinâmica da vida seja essa - tudo uma hora acaba - algumas vezes ainda me dói esse nós tão finito.
Ah meu bem, foi tudo tão bonito, vivemos cem anos em alguns meses, conjugamos o verbo amar de todas as formas possíveis e foi nos teus braços que aprendi o sentido da palavra entrega.

Eu queria te contar, querido, houveram outros depois de ti, aquele que me ganhou na poesia, o outro que era a personificação da beleza e me botava de patas arriadas, embasbacada. Teve aquele que eu amei virtualmente, o outro que me levou no papo, o malandro "pega geral", ou ainda aquele que quase me matava de tanto prazer, e teve até o que foi amor da cabeça aos pés, mas que não foi você, e por isso não me bastou. E tem inclusive, esse ultimo, que me lembra muito você.

Houveram vários, mas nenhum nunca mais foi capaz de permanecer no meu coração, superam o primeiro, o segundo, mas nunca duram tempo suficiente para superar os muros erguidos em torno do meu pobre coração depois de você.

Todos feitos pra acabar, duram noventa dias e então eu preciso de novidades, porque são apenas eles, e nunca mais você, nunca mais nós.

Sabe, Querido, nós fomos a paz num mundo em guerra, a serenidade no caos, fomos um mundo dentro do mundo, a mais bela flor nascida do solo seco, as vísceras de um boneco inflável, o coerência dentro do ilógico, nós fomos amor, o único amor "cor-de-rosa-quick" que eu tive na vida.

Meus bem, nós fomos feitos pra acabar, e se nunca soubemos por que nós, eu sei bem que nunca mais. Então meu querido, qualquer dia desses, quando os fantasmas de nós me assustarem demais, eu não me importo se você aparecer pra me explicar, - caso tenha aprendido - o que é que a gente faz com o amor que acaba mas não termina.

 

 

 

*Por que nós – Marcelo Jeneci


*Escrito em 09/2012


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Daquilo que sai do coração.

"-Tudo bem, até pode ser que os dragões sejam moinhos de vento(...)"*

 

Deus, eu não sei muito bem definir quem ou como você é, mas acredito na sua existência, e com o coração cheio de humildade é que lhe peço acima de tudo que me dê amor, liberdade e coragem.

Não afaste nunca de mim a tua compaixão, me ajude todos os dias a manter o foco em quem eu sou,  que eu não me perca, que eu não me contamine com o normal, que eu não dê ouvidos ao ordinário, que o me doar de alma e coração ao que faço seja minha meta sempre, mesmo quando tiver tão distante  e impossível que eu duvide de alcançar.

Olhai por mim para que nos dias de auto-questionamento e auto-condenação,  haja sempre uma mão estendida para me resgatar e que meu orgulho nunca seja maior do que minha necessidade de ser resgatada.

 Afasta de mim o medo e por misericórdia: não me negue nunca um pouco mais de coragem.

Deus, que mesmo quando as tristezas lânguidas me dominarem, eu ainda consiga ver a vida me sorrindo, que eu tenha forças suficientes para soltar o grito entalado na garganta, e que eu saiba calar quando a vida assim o pede.

Mantenha longe de mim o tédio, a mentira, a dissimulação e a mesquinharia. Que cresça sempre em mim a empatia, que eu não seja nunca blasé a dor alheia. Que quando necessário eu decrete minha própria anarquia particular e mais do que isso, que eu seja forte o suficiente para me curar dos machucados dessa luta.

Deus, se meus problemas crescerem de forma exponencial, por misericórdia te peço que minha coragem cresça assim também. Que minha miopia não  impeça nunca de ver a beleza existente nos detalhes, que eu não desista, que eu não me venda, que eu não me perca.

Deus, eu não me importo com as dificuldades, mas peço humildemente que minha coragem seja sempre maior do que minha dor,  que se tudo o mais faltar, eu tenha as palavras para pedir seu socorro, que as palavras não me sejam negadas nunca.

Deus, obrigada por me ouvir, tenha compaixão de mim para que entendendo ou não suas respostas, eu não seja nunca estúpida em rejeitar ou duvidar.

Amém


*Engenheiros do Hawaii - Dom Quixote

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ausências são amargas - Das cartas não enviadas

Ontem pensei em você o dia inteiro, e não que eu não pense todos os dias, mas me assusto quando a tua imagem me acompanha o tempo todo, mesmo depois de ter se passado quase uma vida inteira.

Andei procurando vestígios de você na internet, em dois minutos tinha uma foto sua salva no meu celular,  ver teu sorriso sincero e distante me dilacerou o coração.

Paro no semáforo, vejo teus olhos no motorista do carro atrás de mim. Talvez eu esteja enlouquecendo. No rádio Nando Reis: "Agora eu sei que até mesmo um grande amor pode não bastar, aprendi com você que no dia a dia um grande amor abrange sonho e vida real".

Nando Reis, cala a boca por favor.  

Talvez esse tenha sido o aprendizado mais sofrido de toda minha vida: Amar não é tudo.

-A gente precisa estudar, trabalhar, cuidar da família, pensar no que é melhor para quem está ao nosso redor, amor? Se der a gente ama, senão, foda-se o amor.

Mas em alguns dias o amor resolve questionar essas  escolhas, então quando você menos espera ele vem e te dá um jab no queixo, faz o teu mundo girar, e quando você  tenta se recuperar  ele ataca novamente, dessa vez com um mata leão, te sufoca e  por muito pouco não te leva a nocaute.

Eu nem sei quando aconteceu, mas me tornei uma dessas pessoas que respiram pressa cotidiana, sempre muito ocupada, sempre correndo, - sempre fugindo -  mas se eu tirar um cochilo de quinze minutos  dentro do carro, no estacionamento da faculdade, e eu tiver um sonho, será com você. Ontem foi assim, e não bastasse você aparecer no meu cochilo da tarde,  a noite eu sonhei com o sonho do sonho. Talvez eu esteja enlouquecendo(2).

Nos sonhos você sempre aparece sorrindo pra mim. E veja você, sou dessas pessoas bobinhas que acreditam naquela historia de que quando você sonha com alguém é porque a alma dessa pessoa veio visitar a sua.

Será, será, será?

Tua foto no celular, não reconheço mais o teu olhar. E pensar que eu já habitei seus olhos.  Quanto nada é preciso até se preencher todo um vazio?

"Quem desejaria que outro alguém além do seu amor pra sua dor fosse remédio?"

Sujeito insistente o tal do Nando Reis.

"Eu quero te dizer que mudei"

Lembra quando eu te dizia que se um dia tudo acabasse e restassem apenas dúvidas, eu talvez jamais fosse capaz de amar outra vez? Maldita profecia.

Gostaria de me encher de uma rebeldia que não tenho, te procurar, gritar, te fazer me dizer:

Foi tudo mentira? Você pensa em mim? Você também sonha comigo?

Isso bastaria, não precisa me ver, não precisa me ligar, não precisa nem me amar, basta apenas que me liberte desse amor que meu coração burro insiste em manter cativo. Me diga que foi verdade, e então talvez eu possa acreditar que um dia poderá acontecer outra vez em outra vida, outro lugar com outra pessoa.

Talvez até você me deva isso, porque mudou minha vida pra sempre, muito embora talvez nem se dê conta disso, e também porque está de posse de um espaço que é meu.

CACETE!

Dá pra apenas me devolver a parte de mim que você levou quando foi embora?

Sinto sua falta todos os dias da minha vida, em alguns dias  essa falta se fantasia de lágrimas e escorre pelos meus olhos.

SINTO SUA FALTA. Não há explicações.

Nando Reis finalmente calou a boca, em seu lugar tem alguém cantando que "Depois de você os outros são os outros e só",  de uma forma triste, concluo que não, não são os outros e só: Depois de você, eu sou outra. E só.




sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Das preguiças da alma

Das minhas manias mais absurdas, mergulhar em mares de silencio é uma das piores.

De tempos em tempos como se esse mundo não me bastasse, eu entro no meu mundo particular onde pouquíssimas pessoas tem convite e acesso.

São épocas em que a preguiça me faz refém. Não, não falo da preguiça do corpo, dessa que com se cura com banho quente e cama, alimento preguiças na alma, elas me afligem e não conhecem muito bem o significado da palavra tolerância.

Aflição sem diagnóstico, cura, muito menos.

Preguiça desse mundo cheio de humanos chatos. Chatos, mas inteligentes, descolados e modernos como você jamais poderiam imaginar.

Quando foi que a vida virou esse "Paraguai", onde os sentimentos são tão baratos e ainda se pechincha mais?

Tempos de corpos cheios de silicone e almas vazias.

De onde surgiu essa obrigação de ser perfeito, simétrico e, obrigatoriamente, ter opinião sobre tudo?

Não sei se estou envelhecendo, nasci na época errada, ou sou mesmo muito burra, mas sinto saudades de quando as pessoas eram consideradas especiais pelo que elas eram e não pela quantidade de seguidores ou "amigos" que ela tinha, sinto falta de saber de histórias de amor e de conquista. De quando estar apaixonado era bonito, e não brega.

De onde surgiu isso que "o melhor amigo tem um melhor amigo que tem um melhor amigo" e você não pode confiar nem no seu melhor amigo?

Que mundo é esse onde as conquistas são regadas com tanto álcool que a ressaca é sempre com gosto de "Alguém sabe quem eu peguei ontem? Eu não lembro, não vi, não sei".

Onde as pessoas arrumam tanto tempo e paciência pra viver só pra impressionar os outros?

Cadê delicadeza, entrega, intensidade, amor?

-Aliás, por onde andará o amor?-

Talvez eu não me encaixe nesse mundo, porque meu mundo é feito de sorrisos sinceros, paixões arrebatadoras e amores intensos, ainda que não eternos.  Troco essa gente moderna e perfeitamente simétrica, por gente normal de coração simples e amor nos olhos.

Minha alma boceja com tanta modernidade. Sofro de preguiça crônica desse mundo de beleza comprada, pessoas superficiais e o dinheiro e o poder cada vez mais tirando a "graça" das coisas

– É tudo tão fácil mesmo.

Aí de mim, que padeço de preguiças agudas, crônicas e lancinantes de tanta modernidade e não sei se isso é sentir demais ou sentir nada.

Passa? Demora, será?


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Humana demasiada humana*



Um dia atípico e o coração transbordando de sensações que sou incapaz de definir. De repente eu que sempre peco por falar demais me vejo estranhamente sem palavras. 
Houve um momento em minha vida em que eu, pessoa de fala me calei e me tornei uma pessoa de escrita, mas agora, nem escrever eu consigo.
E por não saber mais falar e não conseguir escrever tenho ímpetos de gritar.
Todas minhas projeções, meus desenhos, minha escrita e até meus suspiros esfacelam-se  sem que eu faça a menor ideia de como consertar.
Abro a boca e digo meia dúzia de palavras, as respostas que eu tenho não me bastam:
"-Tenha paciência, mantenha a calma, não dê importância..."
E se eu não tiver paciência, não for nenhum pouco calma e quiser sim, dar MUITA importância?
Abro mão de me entregar apenas aquilo que me toca a alma e disfarçada de desentendida, mergulho em superficialidades.
-Você e suas fugas, é o que dizem.  
-Vocês e seus dramas, é o que me limito a responder.
Dentro de mim a razão me acusa de covarde e é dessa culpa que vem minha vontade de gritar o que tenho aqui do lado de dentro.
Faço-o pela escrita, e em linhas tão confusas e vomitadas, que mal consigo ver sentido nesses "vômitos-gritos-sentimentos-linhas".
No peito, o coração insiste em bater descompassado, em ritmo nenhum, desafinado.
Luto para emergir do meu mar de superficialidade, insisto em sobreviver, o que por hora haverá de bastar. 
Agarro-me em certezas ínfimas: a dor e a confusão só vem pra gente lembrar da força e entendimento que há dentro de nós.
As respostas estão "in", nunca "out".  
Desisto dos entendimentos inúteis.  Deixo de ser, permaneço apenas humana.
De nada adianta mente tranquila para quem tem coração que nasceu pra sambar.


 Humano Demasiado Humano-Friedrich Nietzsche*

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Palhaço



O circo está armado,  platéia lotada, cada um em seu lugar numa espera silenciosa.
O palco se ilumina, o palhaço entra.
Alguns sorriem e outros atém choram, poucos passam inertes.

-Palhaços são seres capazes de provocar fortes sensações.-

Ciente de sua missão no palco, executa a tarefa com perfeição: Um pedacinho de si para cada um.
O show acaba, a platéia vai embora.
Alguns falarão do espetáculo por dias, outros, na manhã seguinte nem se lembrarão que existem palhaços.

Mas ele ainda estará lá.

- Palhaço, palco e  lágrimas. -

Não aquelas que fazem parte do figurino, aquelas muito bem desenhadas com maquiagem de quinta categoria, mas aquelas que só surgem quando todas as luzes se apagam e ele percebe que ficou sozinho,
que no final das contas, nesse grande circo chamado vida, é somente ele e sua solidão, o resto é platéia, jamais serão elenco.